| |
Do Encontro de Beren e Lúthien
"Uma noite chegou quando o Inverno morria; então sozinha ela cantou e chorou e dançou até à aurora da Primavera, e cantou alguma coisa mágica e selvagem que o agitou, até que subitamente quebrou os encantamentos que o prendiam, e ele acordou da doce loucura e bravo desespero. Ele levantou os braços para o ar da noite, e lá dançou sem preocupações, rápido, encantado, com pés encantados. Ele apressou-se em direcção à verde colina, aos ágeis membros, à bela dançarina; ele saltou sobre a verdejante colina os seus braços com amor por encher: os seus braços estavam vazios, e ela fugiu; fugindo, fugindo os seus brancos pés se apressam. Mas enquanto ela abalava ele rápido chegou e chamou-a com o suave nome dos rouxinóis em língua élfica, que todos os bosques agora subitamente tocavam: "Tinúviel! Tinúviel!" E clara a sua voz foi como um sino; os seus ecos teceram um cativante feitiço: "Tinúviel! Tinúviel!" A sua voz de tanto amor e espera cheia que um momento ela parou, o medo acabou; só um momento; como uma chama ele saltou direito a ela enquanto ela parava e apanhou e beijou aquela donzela élfica.
Enquanto o amor ali acordou com doce surpresa a luz das estrelas tremeu nos seus olhos. Á! Lúthien! Á! Lúthien! mais bela que qualquer criança dos Homens; Ó! encantadora donzela da Elficidade, que loucura possuis agora! Á! ágeis membros e sombrios cabelos e grinalda de brancas flores; Ó! estrelado diadema e brancas pálidas mãos debaixo do pálido luar! Ela deixou os seus braços e fugiu mesmo ao raiar do dia.
Ele deitou-se sobre o chão de folhas, a sua face sobre o frio seio da terra, desfalecido em esmagadora felicidade, encantado com um beijo élfico, vendo dentro dos seus escuros olhos a luz que por nenhumas trevas morre, o amor que não desaparecerá, apesar de tudo em frias cinzas se tornar. Então envolto nas névoas do sono ele afundou-se em abismos profundos, afogado num enorme desgosto por partir após tão breve encontro; uma sombra e uma bela fragrância persistiam, e diminuíam, e não estava ali. Esquecido, estéril, nu como pedra, o dia encontrou-o frio, sozinho.
"Para onde fostes tu? O dia está vazio, a luz do Sol escura, e fria no ar! Tinúviel, para onde foram os teus pés? Ó estrela errante! Ó querida donzela! Ó flor da Terra Élfica demasiado bela para o coração mortal! Os bosques estão vazios! Os bosques estão vazios!" ele levantou-se e gritou. "Antes da Primavera nascer, a Primavera morreu!" E vagueando em caminhos e mente ele tacteou como alguém que fica subitamente cego, que tenta agarrar a luz escondida com mãos vacilantes em mais que a noite.
E assim em angustia Beren pagou por esse grande destino sobre ele posto, o imortal amor de Lúthien, demasiado bela para a vista de Homens mortais; e para o seu destino foi Lúthien atraída, a imortal a sua mortalidade partilhou; e o Destino para eles forjou uma corrente unida por amor vivo e dor mortal."
|
|